O artista escocês Peter Davies elaborou uma série de pinturas nas quais figuram textos que tomam a própria arte como assunto, fazendo dela sujeito e matéria para discutir o papel do artista na definição da cultura pop. Nesses text paintings, Davies transportou para as telas alguns de seus rankings pessoais. The hot one hundred. é sua lista particular de cem artistas. Trata-se de uma grande e multicolorida lista encabeçada pelo videoartista norte-americano Bruce Nauman (o número 01) e fechada pelo pintor inglês Ivon Hitchens (o número 100). Na linha correspondente a cada nome citado, encontram-se o título da obra ou indicações sobre o trabalho do artista listado.

Cristian Duarte transportou para seu ambiente coreográfico este procedimento-lista de Davies e “devorou” vários ícones da dança, coreógrafos e peças que o instiga(ra)m para construir um solo onde a coreografia é gerada pelo trânsito de referências e memória do corpo.

“Esta peça não é uma representação de trechos coreográficos de outros artistas, trata-se de um recorte das tendências artísticas que me acompanha(ra)m. Minha tentativa é a de desvelar como o corpo em movimento negocia com seu próprio repertório e memória. Uma arqueologia cinética da minha formação em dança. Além disso, o espetáculo é também um convite aberto ao público para me acompanhar neste “jogo”, ativando seus próprios repertórios e percepções. Estou mais interessado nas lacunas, distorções, transformações e impossibilidades da experiência que o trabalho propõe”, explica Duarte.

O entendimento de lista nesta obra coreográfica foi orientado por reflexões do escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo Umberto Eco, apresentadas em seu livro “A vertigem das listas” – que reflete sobre como a ideia dos catálogos, listas, enumerações e inventários mudou ao longo dos séculos e como essa mudança foi expressa por meio da literatura e das artes visuais, conferindo outros entendimentos organizacionais e perceptivos às listas.

The Hot one Hundred Choreographers busca uma experiência de troca entre lista e forma, que não garante lugar fixo ou valoração por números do seu conteúdo. A peça recorta ao mesmo tempo que solicita uma série de et ceteras ao transitar por um turbilhão de referências fragmentadas.

Além da proposta cênica, o projeto apresenta um website que disponibiliza links dos cem coreógrafos-obras listados nesta criação. Vale destacar, que o modo como a lista se apresenta no site, recebeu o mesmo tratamento conceitual da proposta coreográfica. A “hot lista” pode ser conferida no site do projeto (link abaixo).

SINOPSE

The Hot One Hundred Choreographers movimenta uma lista autobiográfica de cem referências que mobilizaram a trajetória artística do bailarino e coreógrafo Cristian Duarte. O solo convida o público a navegar por um arquivo-index que revela um corpo negociando com seu próprio repertório e memória. Hot 100 é composto de referências que vão do clássico ao pop, de Isadora Duncan à Michael Jackson. De Lia Rodrigues ao expressionismo alemão de Mary Wigman. De Bob Fosse à Vera Mantero. De Pina Bausch à Lennie Dale com Dzi Croquettes. Além da proposta cênica, o projeto apresenta um website que disponibiliza links dos cem coreógrafos-obras listados nesta criação.

CRÉDITOS

Concepção, Criação e Dança: Cristian Duarte
Colaboração: Rodrigo Andreolli
Iluminação: André Boll
Edição da trilha: Tom Monteiro
Design e conceito do site: Cristian Duarte e Rodrigo Andreolli
Webdesign e programação: Roberto Winter
Hot contribuições: Bruno Freire, Júlia Rocha e Tarina Quelho
Figurino: Cristian Duarte
Fotografia: Carolina Mendonça
Apoios/Agradecimentos: Artist Faculty program at School of Dance – Herberger Institute at Arizona State University/USA, Simon Dove, Universidade Anhembi Morumbi, Valéria Cano Bravi, PUC-SP – Artes do Corpo, Rosa Hércoles, Peter Davies e mais de cem coreógrafos.
Produzido originalmente para o 15º Cultura Inglesa Festival
Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) 2011 – Criação em Dança
Prêmio de melhor criação em dança do 15º Cultura Inglesa Festival
  • CRÍTICA OESP, CADERNO 2, 7.11.2014 , HELENA KATZ
  • “A seu modo, as listas práticas representam um forma, pois conferem unidade a um conjunto de objetos que, por mais desconformes que sejam entre si, obedecem a uma pressão contextual, ou seja, são aparentados por estarem ou serem esperados todos no mesmo lugar ou por constituírem o fim de um determinado projeto…Uma lista prática nunca é incongruente, desde que se identifique o critério de inclusão que a regula”.
    Umberto Eco em A vertigem das listas.







    [2011]

    THE HOT ONE HUNDRED CHOREOGRAPHERS
    (os cem coreógrafos mais quentes)






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