[2008]

de Sheila Arêas

Re-significar a matéria é uma das obsessões estéticas da artista plástica inglesa Cornelia Parker. Distorcer, derreter, esmagar ou mesmo explodir materiais, no caso, constituem os procedimentos técnicos para redefinir objetos, despertando associações inusitadas entre sua forma modificada e seu contexto original. Em 1991, a artista contou com a colaboração do exército britânico para literalmente mandar pelos ares um galpão de madeira cheio de objetos pré-escolhidos para serem transformados. A partir de minuciosa coleta e remontagem dos fragmentos explodidos, surgiu a instalação Cold Dark Matter: An Exploded View.

Concebido e criado por Sheila Arêas e Cristian Duarte, este solo transporta procedimentos “cornelianos” para a investigação do movimento. A questão do automatismo presente no Ballet Coppélia (ballet cômico-sentimental baseado numa história macabra de E.T.A. Hoffmann intitulada “Der Sandmann” publicada em 1815), foi uma das escolhas que Cristian e Sheila adotaram como matéria durante o processo criativo, por se apresentar como um dispositivo que dialoga com questões atuais do ambiente onde esta criação se desenvolve – São Paulo-Brasil.

Cornélia Boom transita por referências desse contexto, para criar uma dança ambivalente e renovar a percepção com humor e potencial crítico.

Dança
Sheila Arêas

Direção
Cristian Duarte

Concepção e Criação
Sheila Arêas e Cristian Duarte

Pré-elaboração do projeto
Laura Bruno

Iluminação
André Boll

Figurino
Sheila Arêas e Cristian Duarte

Edição da trilha
Cristian Duarte (fragmentos manipulados da musica composta por Léo Delibes para o Ballet Coppélia e Introduçao do Hino do estado de São Paulo)

Orientação circense
Erica Stoppel

Montagem técnica da corda
Ricardo Rodrigues

Fotografia
Rogério Ortiz

Proj. Gráfico
Cristian Duarte

Participaçao especial
Mariana Kurowski (aluna da EMB – Escola Municipal de Bailado de São Paulo)

Produção
Cristian Duarte e Sheila Arêas

Agradecimentos
Barco Virgilio, Thelma Bonavita, Thiago Granato, Maria Jorge, Sandro Amaral, Zeca de Sousa, Ricardo Rodrigues, Rodrigo Matheus e Escola Municipal de Bailado de São Paulo.

Estreia no 12° Festival Cultura Inglesa, dias 23, 24 e 25 de Maio de 2008, Sala Cultura Inglesa do CBB-Pinheiros/Duke of York Auditorium, São Paulo


“Com signos escancarados como o uniforme do São Paulo e as sapatilhas de ponta, o onde e o quem estão dados. Mas nada é tão óbvio assim. Cristian Duarte/Dr.Cornelius apresenta, em sua direção, uma crítica irônica a um tipo de dança que ganha nuances dramáticas e camadas que atravessam a epiderme, músculos e chegam ao sistema nervoso central. E isso pode doer, às vezes. Mas não deixa de ser divertido. Os tais procedimentos cornelianos, baseados na artista Cornélia Parker, promovem riscos para a bailarina e para a plateia. A sombra se evidencia nos espasmos do corpo. Entre dupla personalidade (médico e monstro, ser e não ser!?) se dão os acontecimentos. Há pulsos internos que transbordam e me fizeram pensar na síndrome de Tourrette… Incontroláveis, irrompem em deformação. O avesso espreita o tempo todo, lembrando-nos o quanto estamos distantes da perfeição. Entre a impossibilidade e o desejo, o que acontece? Uma boneca com defeito pode se adequar? Sheila Areas traz o cômico e o trágico em uma interpretação que fascina pelo domínio técnico, pela entrega corporal e capacidade de comunicação. Um engajamento que provocou torções também em mim. Por fim, no deslocamento espacial daquilo que não se é, na visão do ideal, há na contemplação, uma poesia triste e sensível, uma desolação ácida, que, ao mesmo tempo que corrói noções do belo e do certo, as atualiza.”
Leticia Olivares, Mostra Modos de Existir, Sesc Santo Amaro, abril 2013.