C A C O S é uma proposição de 05 danças distintas - 4 duos e 1 trio - criadas pelas artistas que compõem a Cristian Duarte em companhia. Apelidamos essas danças de "cacos", pois as mesmas referem-se a etapas, partes, pedaços de uma criação que esteve em processo no projeto KINTSUGI (realizado pela companhia em 2023 por meio do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo).
A grosso modo, Kintsugi é uma artesania japonesa na qual uma peça de cerâmica quebrada é reparada com um verniz contendo ouro. Nessa arte, em vez de esconder os remendos da cerâmica quebrada, destaca-se as fissuras, enaltecidas pelo ouro, salientando as imperfeições, trajetórias e histórias percorridas pela peça de cerâmica e gerando significados singulares da existência ali presente.
Para o coreógrafo Cristian Duarte, kintsugi serviu de metáfora aos processos de sua continuidade em companhia, assim como uma oportunidade para pensar memória, resiliência e perseverança, olhando para os mais variados pedaços daquilo que já fizemos, e tocando em perspectivas do que éramos e do que somos.
Assim, C A C O S expõe um modo de agenciar uma criação em dança que valoriza e ressignifica os momentos que habitualmente são chamados de processo. Nessa perspectiva, o que ficaria no passado como uma etapa, ou parte de algo maior, se emancipa para cena, enquanto peça capaz de produzir conhecimento e excitar a percepção.
CACO#1
MORDE COMO UM CÃO
com Aline Bonamin e Paulo Carpino
Nada escapa, seguimos em um espaço descontínuo de sinapses frenéticas. Salivamos com graça e mordemos com força. Entre o desejo de seguir juntos e desmoronar emerge uma dança vigorosamente instável.
Criação e Dança: Aline Bonamin e Paulo Carpino
Direção: Cristian Duarte
Música: Tom Monteiro
Figurino: em companhia
Fotografia: Mayra Azzi
Duração: 15 minutos
CACO#2
ME ENVENENA, VEM CÁ
com Gabriel Fernandez Tolgyesi e Maurício Alves
Como as redes sociais e a internet ecoam em você? E nos seus gestos? Nesse dueto dirigido por Cristian Duarte, os bailarinos Gabriel Tolgyesi e Maurício Alves buscam modos de estabelecer conexões entre si, com a plateia e com o mundo, reverberando verborragicamente em palavras-danças aquilo que circula em seus feeds, desde memes até trágicas notícias. Assim, as danças dessa coreografia buscam se ampliar para entendimentos não apenas do corpo em deslocamento no tempo e no espaço, mas para imaginários que nos rondam, penetram em nossos organismos e em nossas subjetividades e ecoam em nossas relações pessoais - menos como um maniqueísmo daquilo que vivenciamos virtualmente, e mais como uma relação entre veneno e antídoto, paradoxal.
Criação e Dança: Gabriel Tolgyesi e Maurício Alves
Direção: Cristian Duarte
Edição trilha Cristian Duarte e Carla Boregas na Música Guitarra Baiana de Moraes Moreira
Figurino: em companhia
Fotografia: Mayra Azzi
Duração: 37 minutos
CACO#3
BOTE
com Danielli Mendes e Leandro Berton
O corpo deseja movimento. Quando nos movimentamos podemos delirar, pois a forma, aparentemente densa e fixa se torna um ambiente moldável, maleável, delirante! Provocar o delírio significa a constante negociação com a matéria, pressionar, soltar, gerar calor, vasculhar arquivos de dança ou não. Enquanto delira o bicho do humano edifica seres e arquiteturas. Enquanto dura o movimento, durará também uma ambiente ficcional inaugurante que existirá na própria duração de um movimento de braço, por exemplo. Neste caco, usamos estratégias para delirar, tornar a forma tão maleável a ponto de brotar uma terra inimaginável e que precisará ser aproveitada, tal qual o animal aproveita o momento do bote. O animal confia em toda a sua sabedoria anatômica numa organização de vida e morte que será, e só poderá ser, numa fração de segundos. Acertando ou não a presa, o bote é a verdadeira fome e nada mais!
Criação e Dança: Danielli Mendes e Leandro Berton
Direção: Cristian Duarte
Música: Tom Monteiro
Figurino: em companhia
Fotografia: Mayra Azzi
Duração: 26 minutos
CACO#4
TUDO VIRA
com Andrea Rosa Sá, Allyson Amaral e Felipe Stocco
Juntas em dois pra cá e dois pra lá. Um ritual? Uma preguiça? Um medo? Uma vontade? Um problema? Tudo vira o quê? Pega um banco e sobe nele pra ver lá de cima essa merda toda. A gente avança como uma onda que bate na sua cara sem dó mas com alegria. Quem disse que alegria é uma coisa assim suave, leve, branda? Alegria é uma emoção igual a tristeza que faz a gente sentir a vida mais forte. Bate na gente, bate na parede, bate na janela, faz a gente ver lá fora, não é sobre você, você é sobre/tudo uma referência de que entre você e Marte tem espaço, tem coisas sem nome, tem vibração, tem o tempo passando. É, meu amor, o tempo passa. Mesmo que ele não seja linear, ele passa, e cria rugas, cria memória que nem sempre a gente se lembra, cria caminhos, cria desejo, cria mais vontade de dar um tapa pra sacar que a gente está aqui de passagem. Dois pra cá e dois pra lá. Feijão com arroz. Bem assim, básicas, pra sonhar complexo.
Criação e Dança:
Andrea Rosa Sá, Allyson Amaral e Felipe Stocco
Direção: Cristian Duarte
Música: Carla Boregas
Figurino: em companhia
Fotografia: Mayra Azzi
Duração: 45 minutos
CACO#5
PRESENTES
com Aline Bonamin e Cristian Duarte
Presentes em uma dança que evoca outras presenças num murmúrio perpétuo que toca as entranhas do espaço e da memória. Tocamos para não esquecer que estamos onde tantas outras estiveram e ainda estarão. Uma dança que celebra o encontro entre um coreógrafo e uma dançarina, entre vivos e mortos.
Criação e Dança: Aline Bonamin e Cristian Duarte
Direção: Cristian Duarte
Figurino: Aline Bonamin, Cristian Duarte e Clarice Lima
Fotografia: Clarice Lima e Leandro Berton
Duração: 35 minutos
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